Padre Pio: duas lições essenciais para sacerdotes em tempos de crise

Padre Pio: duas lições essenciais para sacerdotes em tempos de crise
24 setembro 2025 0 Comentários carlos sette

O sacerdote como vítima da Paixão

A Igreja celebra, no dia 23 de setembro, o memorial de Padre Pio, lembrando que ele recebeu uma graça singular: participar, de forma literal, na Paixão de Cristo. Essa participação não se limitou ao estigma físico, mas se estendeu ao sofrimento espiritual incessante que marcou sua trajetória. Para ele, ser sacerdote não era somente estar à frente do altar, mas também tornar‑se vítima — alguém que, como Cristo, derrama sangue para a redenção das almas.

Na homilia, destaca‑se que o sacerdote contemporâneo precisa resgatar esse sentido de vítima. Não se trata de uma romantização do sofrimento, mas de reconhecer que o ministério sacerdotal tem um componente redentivo que exige entrega total. O exemplo de Padre Pio mostra que, ao oferecer seu próprio sofrimento a Deus, o sacerdote abre caminhos de salvação para os fiéis. Essa visão ecoa a frase latina Non fit remissio sine effusione sanguinis, lembrando que a remissão dos pecados está intimamente ligada ao derramamento de sangue, material ou espiritual.

Além do aspecto místico, há um aspecto prático: o sacerdote, ao encarnar a vítima, deve permanecer vigilante contra as investidas do inimigo. Padre Pio lutou diariamente contra tentações e ataques demoníacos, ciente de que sua missão era proteger as almas que lhe eram confiadas. Essa batalha constante serve de alerta para que os padres de hoje não se acomodem diante das pressões culturais que diluem a identidade clerical.

A confissão como pilar do ministério

A confissão como pilar do ministério

Se a vítima da Paixão é um dos lados da missão, o outro é a escuta misericordiosa no confessionário. A homilia enfatiza que o sacramento da confissão não pode ser visto como um ato secundário, mas como um "tribunal sagrado da misericórdia divina" onde o sacerdote deve sentar‑se, por longos períodos, para acolher os pecados alheios.

Padre Pio dedicou‑se intensamente a esse ministério, mesmo quando lhe foi imposto silêncio ou restrição de público. Sua "lâmpada" — a luz que deveria iluminar a Igreja — esteve, por vezes, oculta, mas nunca apagada. Quando finalmente pôde exercer plenamente seu ofício, tornou‑se um farol que brilhou para toda a comunidade, demonstrando que a confissão é tão vital quanto a celebração da Eucaristia.

Para o sacerdote do século XXI, essa lição tem implicações concretas: é preciso reservar tempo diário para o sacramento da reconciliação, evitar a tentação de relegá‑lo apenas aos fins de semana ou a situações de urgência. A prática regular fortalece não só o penitente, mas também o próprio padre, que se alimenta da graça que emana da confissão.

Além disso, a homilia adverte contra a “preguiça litúrgica”. Celebrar a Missa apenas no domingo já não basta; o sacerdote deve viver o sacrifício eucarístico de forma diária, com reverência e entrega total. Essa disciplina litúrgica complementa a obra no confessionário, formando um sacerdote completo que oferece o sacrifício de Cristo e, simultaneamente, recebe as almas que clamam por perdão.

Em síntese, a vida de Padre Pio oferece um modelo de sacerdócio que combina duas dimensões essenciais: a participação na Paixão de Cristo como vítima e o ministério da reconciliação como fonte de misericórdia. Em meio à crise de identidade que atravessa a Igreja hoje, esses pilares servem de bússola para os padres que buscam reencontrar seu sentido profundo, iluminando assim a comunidade com a mesma luz que guiou o santo italiano no século passado.