EUA investigam Bitmain por riscos de espionagem em mineradoras de Bitcoin feitas na China
O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos está conduzindo uma investigação secreta sobre a Bitmain Technologies Ltd., a maior fabricante mundial de mineradoras de Bitcoin, por suspeitas de que seus dispositivos ASICs possam ser usados como portas de entrada para espionagem cibernética. A revelação, ainda não oficialmente confirmada, surgiu de documentos internos vazados e fontes do setor que mencionam um contrato de alto perfil — 16.000 unidades vendidas a um cliente não identificado — como o gatilho para a ação. A empresa, fundada em 2013 pelos engenheiros chineses Jihan Wu e Micree Zhan e com sede em Pequim, domina mais de 70% do mercado global de hardware para mineração de criptomoedas. E agora, seu equipamento está sob lupa do governo americano.
Por que isso importa para os EUA?
Imagine que você compre um ventilador para sua casa — e descubra, anos depois, que ele pode ser ligado ou desligado por alguém do outro lado do mundo. É mais ou menos isso que os EUA temem com os mineradores da Bitmain. Os ASICs não são apenas máquinas para resolver equações matemáticas. São computadores de alto desempenho, conectados à internet, com processadores, memória e firmware. E se houver um backdoor escondido no código? Um botão remoto que permite redirecionar a capacidade de processamento para ataques de criptomoedas, roubar dados de redes locais ou até sobrecarregar a infraestrutura elétrica? É uma possibilidade que assusta autoridades de segurança nacional.
Essa não é uma teoria da conspiração. Em 2020, o pool de mineração LuBian foi invadido por meio de uma falha catastrófica no gerador de chaves privadas — o Mersenne Twister, com apenas 32 bits de entropia. O resultado? 127.272 bitcoins roubados, equivalentes a US$ 3,5 bilhões na época. A China acusou os EUA de terem orquestrado o ataque. Os EUA responderam que os fundos foram apreendidos por envolverem o esquema de fraude "pig butchering" liderado por Chen Zhi, do Prince Group. O que ninguém discute é que a vulnerabilidade técnica existiu — e foi explorada. Agora, o governo americano quer garantir que o hardware que alimenta a rede Bitcoin em solo norte-americano não tenha falhas semelhantes, mas desta vez, intencionais.
As fábricas da Bitmain e a geopolítica das criptomoedas
A Bitmain opera fábricas em Xangai e Shenzhen, e tem subsidiárias nos EUA, Canadá e Israel. Mas o centro de produção — e de controle — permanece na China. Isso é crucial. Enquanto empresas como MicroStrategy e Marathon Digital compram milhares de unidades da Bitmain para expandir suas operações nos estados de Texas e Geórgia, o governo americano teme que o hardware possa ser modificado remotamente, talvez por ordens do governo chinês ou por agentes infiltrados. Não há prova disso. Mas o silêncio da Bitmain é estranho. Nenhuma declaração pública. Nenhum comentário oficial. Nem mesmo um "não temos nada a esconder".
Essa investigação acontece em meio a um aumento dramático na tensão tecnológica entre EUA e China. Em 2023, os EUA impuseram restrições à exportação de chips avançados para a China. Em 2024, a China proibiu a mineração de Bitcoin em cinco províncias. E agora? Os EUA estão olhando para o hardware que alimenta a blockchain. É um jogo de xadrez silencioso. Quem controla o hardware controla parte da rede. E a rede Bitcoin, por mais descentralizada que seja, ainda depende de máquinas físicas feitas por empresas humanas.
O que a Bitmain poderia fazer? E o que os EUA podem fazer?
Se a investigação confirmar vulnerabilidades, o Departamento de Segurança Interna pode impor restrições de importação, exigir certificações de segurança mais rígidas, ou até proibir a venda de mineradoras da Bitmain em território americano. Isso não seria a primeira vez. Em 2022, o governo dos EUA bloqueou equipamentos de telecomunicações da Huawei por riscos semelhantes. O padrão é claro: se o hardware vem de um país considerado adversário, e há indícios de risco cibernético, a resposta é restritiva.
A Bitmain, por sua vez, poderia se defender abrindo seu firmware para auditoria independente — algo que nenhuma empresa chinesa de hardware fez até agora. Ou poderia simplesmente vender mais para países que não exigem transparência: Rússia, Irã, Coreia do Norte. Ainda assim, o mercado global de ASICs é tão concentrado que, se os EUA cortarem o acesso, a Bitmain perderia um dos maiores compradores do mundo. O impacto financeiro seria brutal.
Quem mais está preocupado?
Mineradores independentes nos EUA já estão se movendo. Alguns estão trocando os modelos da Bitmain por equipamentos da MicroBT (também chinesa, mas com sede em Hong Kong) ou da Canaan (da China, mas com maior transparência). Outros estão apostando em hardware europeu — ainda caro e raro — ou até em soluções de código aberto, como os mineradores feitos por pequenas empresas nos EUA e Canadá. O movimento é lento, mas real. E está ligado a algo maior: a percepção de que a descentralização da blockchain não é tão livre assim se o hardware vem de um único país.
"A blockchain é descentralizada, mas o hardware não é", diz um minerador de Wyoming, que pediu para não ser identificado. "Se 80% das máquinas que mantêm a rede vêm de um lugar onde o governo pode pedir para mudar o código, então a confiança na rede é ilusória."
O que vem a seguir?
A investigação ainda está em fase inicial. Não há prazos definidos. Não há acusações formais. Mas o silêncio das autoridades é um sinal. Quando o governo dos EUA investiga algo sem anunciar, geralmente está coletando provas. E quando o alvo é uma empresa que controla mais de 70% do mercado — e que opera em um setor estratégico como criptomoedas — o que está em jogo não é só um produto. É a soberania digital.
Em 2025, pode ser que o mercado de mineradoras se divida: um lado com hardware "confiável" (provavelmente não chinês) e outro com os antigos modelos da Bitmain, agora estigmatizados. Os preços dos ASICs podem subir. As contas de energia dos mineradores podem aumentar. E os investidores em Bitcoin, que confiam na rede como uma tecnologia imune a controle, podem ter que repensar sua segurança física.
Frequently Asked Questions
Como a Bitmain respondeu à investigação dos EUA?
Até o momento, a Bitmain Technologies Ltd. não fez nenhuma declaração pública sobre a investigação do Departamento de Segurança Interna dos EUA. Isso é incomum para uma empresa de seu porte, que normalmente se posiciona em crises. Especialistas sugerem que o silêncio pode ser estratégico — evitar comentários que possam ser usados contra ela — ou sinalizar que há algo a esconder. A ausência de resposta alimenta especulações, mas não confirma nenhuma acusação.
Quais mineradoras da Bitmain estão envolvidas na investigação?
A investigação não especifica modelos exatos, mas fontes indicam que os equipamentos mais recentes — como os S21 e S19 Pro — são os principais alvos, por terem firmware mais complexo e conectividade avançada. Modelos antigos, como os S9, são considerados menos suscetíveis por serem mais simples e sem atualizações remotas. Ainda assim, qualquer dispositivo com acesso à internet pode ser um vetor de ataque, o que amplia o escopo da análise.
Isso significa que o Bitcoin está em risco?
Não diretamente. A rede Bitcoin é descentralizada e resistente a ataques em sua camada de consenso. Mas se grandes mineradores forem forçados a parar por regulamentação, a hash rate pode cair temporariamente, aumentando o tempo de confirmação das transações. O risco maior é de confiança: se os usuários acreditarem que o hardware é controlado, podem perder fé na rede como um sistema imune a censura.
Quem mais fabrica ASICs fora da China?
Ainda há poucos competidores. A Canaan (China) e a MicroBT (China/Hong Kong) dominam o mercado secundário. Empresas ocidentais como Bitfury (Geórgia) e Intel (que abandonou o setor em 2023) têm capacidade limitada. Algumas startups nos EUA, como Argo Blockchain e Iris Energy, estão desenvolvendo hardware próprio, mas ainda não conseguem escalar. O mercado global depende quase totalmente da China — e isso é o problema central da investigação.
O que os mineradores individuais devem fazer agora?
Se você usa mineradoras da Bitmain, não entre em pânico. Mas considere monitorar atualizações de firmware, evitar conexões remotas desnecessárias e, se possível, diversificar o hardware. Algumas comunidades já estão criando listas de mineradoras "seguras" com firmware auditado. A transparência é a melhor defesa. E, se você é um grande operador, talvez seja hora de negociar com fornecedores alternativos — mesmo que custem mais.
Essa investigação pode afetar o preço do Bitcoin?
Possivelmente. Se a investigação for amplamente divulgada e gerar pânico entre mineradores, pode haver uma queda temporária na oferta de hardware, reduzindo a hash rate e levando a uma menor confiança na rede. Por outro lado, se a Bitmain for proibida de vender nos EUA, os preços dos ASICs podem subir, aumentando os custos de mineração — o que historicamente pressiona o preço do Bitcoin para cima. O mercado reage a incertezas. E essa é uma incerteza de longo prazo.
Roberto Hauy
novembro 23, 2025 AT 04:49isso aqui é puro drama americano, tipo, se a Bitmain tem backdoor, então todo chip chinês é espião? meu celular é Huawei e ainda não mandaram meu histórico de whatsapp pro exército chinês kkkk