Crise de crédito abala Ambipar: dívida, garantias e risco de default

Crise de crédito abala Ambipar: dívida, garantias e risco de default
27 setembro 2025 0 Comentários carlos sette

Como a crise começou

Em setembro de 2025, um tribunal do Rio de Janeiro concedeu liminar que impediu o Deutsche Bank de cobrar US$ 550 mi em garantias extras vinculadas aos green bonds da Ambipar. A decisão travou, por ora, a aceleração do vencimento da dívida, mas trouxe à tona um buraco de liquidez de US$ 1,88 bi que a empresa ainda precisa fechar.

O ponto de partida foi a exigência do banco por colateral adicional. O Deutsche Bank deu à Ambipar um prazo até sexta‑feira para oferecer US$ 60 mi em garantia, sob pena de acionar cláusulas de cross‑default que cobrem cerca de US$ 10 bi em obrigações. Essa ameaça de inadimplência em cadeia gerou um risco existencial, refletindo imediatamente na queda de 51,3 % das ações, que tocaram R$ 1,66 – quase o menor nível do último ano.

As agências de rating não tardaram a reagir. A S&P colocou a emissora em crise de crédito na sua lista CreditWatch com outlook negativo, enquanto a Fitch rebaixou o outlook de positivo para negativo, mantendo a nota BB‑, mas alertando para um leverage bruto que pode chegar a 4,6x até o fim de 2025.

Reação da empresa e planos para reverter o quadro

Reação da empresa e planos para reverter o quadro

Para lidar com a tempestade, a Ambipar promoveu mudanças na alta cúpula. Ricardo Rosanova Garcío assumiu as funções de CFO e de Relações com Investidores, substituindo João Daniel Piran de Arruda e Pedro Borges Pedersen – este último sob investigação da CVM por supostas irregularidades no programa de recompra de ações.

O próximo passo crucial é a emissão de debêntures no mercado doméstico, com objetivo de arrecadar até R$ 3 bi (cerca de US$ 560 mi). O montante deve servir para refinanciar dívidas existentes e gerar capital de giro. A empresa já havia captado US$ 400 mi em janeiro de 2025 no mercado externo e emitido debêntures em maio de 2024, mas a pressão atual exige um volume maior e mais rápido.

O cenário macroeconômico brasileiro também complica a situação. Investidores internacionais têm observado o país com mais cautela, e a possibilidade de Donald Trump retornar à presidência dos EUA eleva a expectativa de juros americanos, o que costuma encarecer o financiamento de emergentes.

Apesar das dificuldades, a Fitch reconhecia, em avaliações anteriores, que a Ambipar tinha estratégias para reduzir a intensidade de capital, melhorar ciclos de caixa e focar no crescimento orgânico. A agência esperava que a companhia abatêsse cerca de R$ 1 bi em dívida até o final de 2024, porém a recente cascata de garantias e demandas de colateral mudou esse panorama.

Os investidores e analistas agora observam se a emissão de debêntures será concluída com sucesso e se a empresa conseguirá atender ao requerimento de colateral do Deutsche Bank sem provocar novos defaults. O desfecho desses passos definirá se a Ambipar vai superar o turbilhão ou se o risco de insolvência se tornará realidade.